segunda-feira, 11 de julho de 2011

Depois dos Vinte e Cinco

Não conheço pessoa mais engraçada que a minha mãe. Só que o engraçado dela é diferente daquilo que costumeiramente é dito cômico. Ela não é o tipo que faz graça pela graça, muito menos o tipo que conta piada. Meus Deus! Acho que se existisse sua versão stand up comedy, não ia ter pra ninguém. Faria loucuras com um microfone na mão. Os caras do CQC pediriam pra sair, aposentadoria precoce, coisa certa. Ainda bem pra eles, claro, que mummy não sobe ao palco, e, deixe para ser engraçada de bobeira, só para os mais íntimos.
Também não é uma coisa, assim, combinada com hora e lugar. Acontece quando menos se espera. Pode ser até naquelas horas que mal cabem no tempo. Estamos morrendo de pressa, correndo para conseguir terminar os intermináveis compromissos do dia, e aí, simplesmente, ela faz ou fala algo genial. Embora talvez ache que seja a forma dela enxergar o que lhe cerca, que é única, só dela, que torne a vida de quem está por perto mais divertida.
De um jeito ou do outro, geralmente, o ato vem acompanhado das mais variadas expressões faciais. Muitas vezes, trata-se de uma leitura irônica do momento presente. Pode ser também a moral um tanto torta de um drama vivido por uma de nós, suas filhas. Não existe regra. Se acho que é um dom? Não sei, talvez seja. É muito despretensioso. E com certeza, muito contagiante.  
A expressão “chorar de tanto rir” me é familiar desde pequenininha. Não me lembro de ter visto muitos fulanos chorando de rir na vida. Mas a minha mãe, ela, eu vi incontáveis vezes. E não tem coisa mais gostosa e engraçada do que vê-la lavando o rosto de lágrimas de tanto riso. Corrijo, não tem nada mais gostoso do que a reunião das mulheres da família, rindo, chorando de rir e fazendo as outras rirem e chorarem de rir.
Sou a caçula de três. Quando era menor, me sentia um pouco deslocada. Sou a única que não tem essa deliciosa capacidade de cair em prantos rindo. Já minhas irmãs e minha mãe, elas não choram tristeza a quantidade de choro feliz. Nem os olhos ficam inchados de dor como ficam de alegria. Se isso não for divino, não sei mais o que é.
Existe uma lenda que diz que o humor das mulheres só fica bom mesmo depois que elas ultrapassam uma certa faixa etária. Parece que depois dos 25, como num passe de mágica, as moças deixam de ser desnecessariamente marrentas, e tornam-se mais leves. Não faz muito tempo que eu ultrapassei a marca. E pelo andar da carruagem, estou começando a acreditar na historinha. Se um dia vou chorar de rir, rolar no chão, molhar a saia, inundar o ambiente com minhas lágrimas, isso ainda é um mistério. Mas se eu passar dos 50 e ter com as minhas filhas momentos tão divertidos como os que tenho com a minha família, me darei por satisfeita. Muitíssimo satisfeita!

5 comentários:

  1. Son,

    A crônica está genial! Ontem mandei um comentário e não aparece no seu blog.
    Bjs

    Mummy
    PS: Vc também é muito engraçada.

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  2. Xará,

    Está leve e gostoso o seu texto. Como um daqueles docinhos de aniversário. Beijos.

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  3. Amei o texto: Sou a única que não tem essa deliciosa capacidade de cair em prantos rindo. Já minhas irmãs e minha mãe, elas não choram tristeza a quantidade de choro feliz. Nem os olhos ficam inchados de dor como ficam de alegria. Se isso não for divino, não sei mais o que é.
    Isso é pura sinestesia... muito lindo mesmo... FAz-nos ver uma Lúcia renovada, maravilhosa. Como somente aqueles que com ela convivem na intimidade como as filhas, conhecem e como vc disse saboreiam.
    Gostei mesmo de vê-la assim, bonita, humana, feliz. Como sei que ela é... pois fez muito por mim...

    abraços e obrigada por nos dar o prazer de ler esse belo texto

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  4. Amei Son... saudade da sua risada gostosa.... beijo Mari

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  5. Soninha! Muito bacana esse texto :)
    Rolou uma identificaçãozinha. rss
    Lá em casa tb rolam dessas risadonas de vez em quando. Às vezes a gente tb ri de desespero, sabe? Rir pra não chorar? Só que aí a gente acaba chorando, de tanto rir.
    Beijo pra você e pra sua mãe que, espero ter o prazer de conhecer um dia!

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