Sentado ao pé de uma mangueira, aproveitando a sombra no meio da tarde, seu Benedito conversa com o vento: “Eu hoje sou quem a vida me tornou. E ela que é muito esperta vai me moldando com a substância daquilo que fui. Quando eu olho para trás, não vejo passado. Vejo lembranças. Filamentos que já não são mais os mesmos.” Ele vai recostando o corpo no tronco. Os olhos parecem pesados, luta para que as pálpebras não se fechem. O esqueleto que é todo gasto procura mais conforto. De súbito, seu Benedito arregala bem os olhos, mais vivo do que nunca, prossegue: “O binóculo sempre reflete o espírito exaltado do presente. O futuro é danado, só existe mesmo no sossego. Senão bota as dores de antes noutras circunstâncias.” Como quem vai adentrando nos próprios pensamentos, aquele senhor de corpo frágil parece se perder no instante. E novamente, desperta do sono não dormido, enche o pulmão de ar e diz ao vento: “Então, eu miro bem pro passado, eu encaro o antigo. Mas para não correr perigo, eu escolho o momento. Só me atrevo, só me arrisco, quando meu peito transborda contento.” Ele olha para o lado e balança a cabeça como quem concorda com o que acabara de ouvir. “É, meu amigo, só assim não fico preso nas armadilhas dos fantasmas.”
Ai... Violetinha... Assim, eu transbordo. Ainda mais após balançar embaixo das mangueiras da Chapada vermelha da seca e pintada de ipês amarelos, brancos e roxos...
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